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CAPELA SÃO MIGUEL ARCANJO

SÃO MIGUEL PAULISTA E A CAPELA NO INÍCIO DO SÉCULO XXI

       A Capela de São Miguel Arcanjo se localiza em São Miguel Paulista na Zona Leste de São Paulo. O bairro, desde a instalação do aldeamento e ereção do seu edifício no século XVII, passou por profundas transformações, sobretudo após o início da urbanização do distrito com a construção da estação de trem em 1925. A linha somente foi posta em funcionamento em 1932, diminuindo o problema de transportes para os habitantes. No âmbito da mobilidade foi criada, em 1930, a linha de ônibus entre São Miguel e a Penha.¹


      Na área da expansão urbana, a Companhia Nitro Química foi fundamental para o crescimento populacional de São Miguel e região. A empresa se instalou em 1935 e, com ela, vieram seus funcionários que contabilizavam quatro mil operários diretos no ano de 1948.² Fundaram-se também as vilas operárias circunvizinhas à fábrica.³ Estes operários e trabalhadores constituíam-se majoritariamente de migrantes nordestinos, e seus descendentes formam até hoje os aspectos culturais do bairro.⁴ Veja-se como a própria Praça Padre Aleixo Monteiro Mafra é ainda popularmente conhecida como “Praça do Forró”.


       Entre os anos 30 e 40, muitos destes migrantes se aproveitaram do aspecto inicialmente rural do bairro e de seu loteamento em chácaras e fazendas da região.⁵ Deste modo, os atuais distritos do Itaim Paulista, Itaquera e Ermelino Matarazzo⁶, por exemplo, que anteriormente pertenciam a São Miguel, ganharam independência administrativa devido à medida que se deu a expansão urbana. É fato que a migração nordestina rumo as regiões urbanas no Sudeste, não ocorreu somente pelo avanço da industrialização em São Paulo e decadência da agricultura no Nordeste. Paulo Fontes diz que a causa principal para tal migração foi a busca por direitos urbanos e trabalhistas, que conduziu esses migrantes à uma jornada difícil através de uma travessia perigosa. Contudo, essa viagem era muito bem planejada pelas famílias no Nordeste e pela comunidade em São Paulo, geralmente em busca de uma pequena propriedade, seguida de uma rede de comunicações entre os que estavam na terra de destino.


       Para o autor, o principal problema na migração foi a falta de recepção paulista, o que fortaleceu espaços de sociabilização e de cultura nordestina como ocorreu no bairro de São Miguel. Em 1978, com as atividades organizadas pelo Movimento Popular de Arte (MPA)⁷ os artistas foram instrumentalizados e ganharam uma infraestrutura. Os sábados passaram a ter a “festa do forró”, para atender as demandas da população nordestina. Nesse momento, o forró passou a ser um atrativo turístico junto à capela, de onde vem a alcunha da Praça.⁸


       As festividades do bairro estão fortemente ligadas à religiosidade católica. Assim, há a Caminhada da Ressurreição, evento da diocese de São Miguel Paulista, que desde 1984 acontece no sábado de aleluia (dia que antecede o domingo de Páscoa). Ainda no âmbito das festividades católicas está a festa do padroeiro São Miguel Arcanjo, comemorada no dia 29 de setembro. É a festividade religiosa de maior expressão no bairro.⁹


       No tocante à Capela, após a inauguração da nova igreja matriz na Praça na década de 60, seu edifício chegou a ser usado como escola primária e mesmo como abrigo para moradores de rua. Em 1980, ela serviu como biblioteca e abrigou um escritório de Direitos Humanos.¹º No ano de 1992, por parte da administração da prefeita Luiza Erundina, o espaço recebeu uma reforma, na qual ganhou um palco em formato de chapéu de couro para a realização de shows e festas.¹¹ Aos finais de semana, jovens e adultos reuniam-se para festejar e dançar com as bandas nordestinas, shows disponíveis e encontros de sanfoneiros, eventos que ocorreram vários anos. Porém em 2006, após o início do processo de sua segunda restauração, sob a parceria com o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional que sucedeu o antigo SPHAN), o palco foi demolido e as festas suspensassob a justificativa de sua melhor preservação. Atualmente, a Capela recebe algumascerimônias e festividades religiosas e a diocese tem se empenhado na realização deatividades culturais para sua divulgação e preservação.¹²

 

Notas

¹ BOMTEMPI, S. O bairro de São Mioguel Paulista. São Paulo: Oficina de Artes Gráficas Bisondi  1970, p.158-159.

² Idem, p. 159

³ Ibidem.

⁴ Segundo Bomtempi: “[...] de 1930 a 1939 para cá vieram 435.864 obreiros dos diversos Estados. Nos anos da Segunda Guerra entraram em São Paulo 189.949 patrícios [...] 384.359 entre 1946 e 1950, respectivamente,recebemos 102.2436 e 1000.123 trabalhadores nacionais [...]” ob. cit. (p. 160). Bomtempi ainda ressalta a composição majoritariamente nordestina destes migrantes.

⁵ BOMTEMPI, S. O bairro de São Miguel Paulista. São Paulo: Oficina de Artes Gráficas Bisondi 1970, p.160

⁶ MELO, J. M. Itaim Paulista: A origem histórica, o início da urbanização e a elevação a distrito. São Paulo2004, p. 165.

⁷ Movimento Popular de Arte (MPA)- Esse movimento foi muito importante como agente socializador da
praça; era formado por artistas que queriam mostrar as produções culturais do bairro: músicos, poetas, artistas plásticos e professores.
⁸ RODRIGUES, Isabel. Capítulo II. São Miguel Paulista- capela de São Miguel Arcanjo- interfaces das
memórias do patrimônio cultural. São Paulo, 2007, p.107-133.
⁹ CAPELA DE SÃO MIGUEL ARCANJO. Disponível em: <cidadedesaopaulo.com/v2/atrativos/capela-de-sao-miguel-arcanjo/?lang=pt>. Acesso em: 10 de junho de 2019. PRAÇA DO FORRÓ – SÃO MIGUEL PAULISTA. Disponível em: <sociedadedospoetasamigos.blogspot.com/2012/12/praca-do-forro-sao-miguel-paulista.html>.Acesso em: 10 de junho de 2019. Disponível em: <www.diocesesaomiguel.org.br/index. php/noticias-2/2019/1389-35-caminhada-da- ressurreicao>. Acesso em: 10 de junho de 2019. HISTÓRIA DA CATEDRAL DE SÃO MIGUEL ARCANJO. Disponível em:<www.catedralsaomiguel.org.br/historia>. Acesso em: 10 de junho de 2019 http://sociedadedospoetasamigos.blogspot.com/2012/12/praca-do-forro-sao-miguel-paulista.html
¹º MORCELLI, Danilo da Costa. São Miguel Paulista e seu Patrimônio: caminhos para o uso social, 2016, p. 39.
¹¹ MORCELLI, Danilo da Costa. São Miguel Paulista e seu Patrimônio: caminhos para o uso social, 2016, p. 40

¹² MORCELLI, Danilo da Costa. São Miguel Paulista e seu Patrimônio: caminhos para o uso social, 2016, p. 40.

Bibliografia


BOMTEMPI S. (1970). O bairro de São Miguel Paulista. São Paulo: Oficina de Artes
Gráficas Bisondi, 1970.


FONTE, Paulo. Um nordeste em São Paulo: trabalhadores migrantes em São Miguel
Paulista (1945- 1966). Rio de Janeiro, Editora FGV, 2008.


MELO, Jesus. M. Itaim Paulista: A origem histórica, o início da urbanização e a elevação a
distrito. São Paulo, 2004.


RODRIGUES, Isabel. São Miguel Paulista- capela de São Miguel Arcanjo- interfaces das
memórias do patrimônio cultural. São Paulo, 2007. Capítulo II. pp (107-133).


CAPELA DE SÃO MIGUEL ARCANJO. Disponível em: <cidadedesaopaulo.com/v2/atrativos/capela-de-sao-miguel-arcanjo/?lang=pt>. Acesso em: 10 de junho de 2019.


PRAÇA DO FORRÓ – SÃO MIGUEL PAULISTA. Disponível em:
<sociedadedospoetasamigos.blogspot.com/2012/12/praca-do-forro-sao-miguel-
paulista.html>.Acesso em: 10 de junho de 2019.


HISTÓRIA DA CATEDRAL DE SÃO MIGUEL ARCANJO. Disponível em:

<www.catedralsaomiguel.org.br/historia>. Acesso em: 10 de junho de 2019.

Textos de Bianca Cristina Xavier; Enzo Augusto Soares Siqueira; Gabriel Magalhães Lopes;
Letícia Marcolino Pires; Luma Dias da Silva; Vinicius Luis Monteiro da Silva.

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