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CAPELA SÃO MIGUEL ARCANJO

O TRABALHO DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

NA CAPELA

       Educação patrimonial é o estudo constante e ordenado do Patrimônio Cultural, considerando esta como fonte principal de conhecimento que enriquece, nesse aspecto, os indivíduos e a sociedade como um todo. Esse estudo tem como objetivo o conhecimento crítico, a apropriação e a valorização da herança relativa à cultura, para que, além da criação de novos conhecimentos, o aproveitamento do Patrimônio Cultural seja efetivo.


       A Educação Patrimonial mostra-se importante a partir do momento em que se entende o patrimônio como forma de construção de uma identidade, seja essa a nível nacional, ou comunal (comunidade). Para isso, é necessário fazer com que a comunidade desenvolva um sentimento de pertencimento ao patrimônio, para então ser possível trabalhar a preservação.


       Nesse sentido, é um instrumento de “alfabetização cultural” que possibilita o indivíduo entender o mundo que o rodeia, levando-o a compreender o universo sociocultural e a trajetória histórico-temporal em que está inserido. Este processo eleva a autoestima dos sujeitos e das comunidades, o que é fundamental para traçar os caminhos do desenvolvimento do lugar e para valorização da cultura brasileira, compreendida como múltipla e plural.


       Ações educativas fazem parte de todo processo de gestão do patrimônio cultural, já que o trabalho de educação patrimonial é uma construção coletiva e dialógica (com base no diálogo), portanto, não cabe aos estudiosos do tema imporem à uma comunidade o que é patrimônio e como esse deve ser preservado.


      O bairro de São Miguel Paulista na atualidade é constituído de uma realidade de comércio e constante movimentação. A ideia de reconstruir a capela dividiu dois grandes grupos: os intelectuais historiadores, que veem a praça como um símbolo histórico; e os moradores, que antes reconheciam a Praça Padre Aleixo Mafra como a Praça do Forró. É nela que está a Capela de São Miguel Arcanjo.


       Tanto para historiadores, quanto para os moradores, a Capela é referência, constituindo-se em um elemento agregador de ações, seja na luta para utilizar os espaços da praça para manifestações nordestinas, para as saídas das procissões, para os atos litúrgicos ou para um passeio matinal. Com o restauro, a praça que era famosa por ser do forró teve as suas festas proibidas, por conta da descoberta de um sítio arqueológico em todo território.


       Para ser considerado patrimônio para a sociedade é necessário que o local tenha significados históricos e uma significância para cultura específica. Em vista disso, aos nossos olhos, o maior desafio é que essas duas realidades tão distintas – apesar de ocuparem o mesmo local – entendam a importância que a Capela de São Miguel Paulista tem, juntamente com a praça e seu museu.


       Dessa forma, ao chegar na Capela é praticamente impossível desassociar a visita dela, da visita do museu e do seu entorno. Criado junto com o restauro e montado em forma de circuito, o Museu mostra um pouco sobre a história da inauguração da Capela e sobre todo o processo de restauração. Junto do restauro da inauguração do Museu, surgem diversos projetos para abranger a população e fortalecer a educação patrimonial.


       Um exemplo foi o curso de formação de mediadores de equipamentos culturais promovido pela Associação Cultural Beato José de Anchieta. Este projeto tinha como objetivo a formação de monitores, que deveriam ser da região de São Miguel ou arredores e estar cursando ou ter cursado no mínimo até o 2° ano do Ensino Médio, para receber e informar visitantes a respeito de questões socioculturais, patrimoniais e históricas do Museu. Assim, por meio da informação este projeto tinha como finalidade sensibilizar o público alvo, a comunidade de São Miguel e adjacências, sobre o valor histórico, arquitetônico, cultural e artístico dos bens materiais. Além disso, tinham o intuito de gerar uma consciência preservacionista nos participantes e na comunidade local e contribuir para a formação de profissionais qualificados para instituições museológicas. Para realizar este último propósito citado, os organizadores do projeto elaboraram uma rede de aprendizagem que era composta por aulas expositivas dialogadas, visitas técnicas monitoradas, trabalho de campo para a identificação de bens culturais e debates sobre apresentações de vídeo. Essas estratégias de aprendizagem foram realizadas em salas de aula tecnologicamente equipadas para atividades didáticas presenciais e em espaços culturais dotados de acervo, monitoria e imóveis em restauro ou restaurados para atividades de visitações monitoradas, como a própria Capela.


       Outro projeto de educação patrimonial dentre muitos que foram realizados na Capela foi o de Expedição Fotográfica. Esse projeto aconteceu durante as obras de restauração e foi composto pela ação de estudantes que foram estimulados, primeiramente, a fotografar livremente a Capela e a dirigir sob ela um olhar histórico e estético a fim de compreender aquele patrimônio. Em uma segunda etapa, que possuía como objetivo explicar a Capela em toda sua complexidade de contexto histórico, social, cultural e, principalmente, religioso, ocorreram debates em salas de aula centrados nas observações dos fotógrafos e dos professores. O principal objetivo deste projeto foi a conscientizar e sensibilizar as novas gerações da comunidade local para que pudessem reconhecer e conhecer aquele bem e a importância de sua preservação.


       Também se destaca como trabalho de educação patrimonial na Capela o Festival Tombamento realizado pelo grupo Ururay. Este é um núcleo de pesquisa e ação cultural que tem como intuito o engajamento nas áreas de preservação e divulgação do patrimônio cultural da zona leste de São Paulo. O festival realizado em São Miguel promoveu palestras, intervenções artísticas, musicais e culinárias a respeito da Capela e seus arredores e teve um papel importantíssimo para conscientização e engajamento com a população local.


       Aos poucos, o trabalho de educação patrimonial tem cumprido seu papel e ajudado nessa questão com diversos projetos, mas ainda é necessário mais para que a própria população consiga se ver como parte dessa história e entenda sua importância desde os tempos mais primórdios até os dias de hoje.

 

Referências

FLORÊNCIO, Sônia Regina Rampim. Entrevista concedida para o l Forum Nacional do Patrimônio Cultural. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=sRikhvqt664&feature=youtu.be> Acesso em 10 jun. 2019.

HORTA, Maria de Lourdes Parreiras; GRUMBERG, Evelina; MONTEIRO, Adriane Queiroz. Guia Básico de Educação Patrimonial. Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Museu Imperial, 1999.

SANTOS, Eduardo. Sustentabilidade: um processo de gestão cultural. In SANTOS, Eduardo. (org.) Capela de São Miguel: Restauro, Fé, Sustentabilidade. Realização: ACBJA – Associação Cultural Beato José de Anchieta, São Paulo, 2010.

Texto de Heloise Lima Silva; Julia Taveira Berti Lopes; Rafaela Mendes Bastos Oliveira; Victor Luís Cardoso Silva Brena Paiva.

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