top of page

CAPELA SÃO MIGUEL ARCANJO

A NOVA RESTAURAÇÃO DE 2006

       A Capela de São Miguel Arcanjo situada na Zona Leste de São Paulo, durante o ano de 2006, entrou em um novo e grande processo de restauração. Mal sabia-se dos segredos do lugar que datada do século XVII escondia por detrás de sua estrutura simples e ao mesmo tempo bela.


       A restauração que contou com o apoio de entidades privadas e públicas bateu a casa dos R$3,1 milhões¹ e obteve junto do processo de redescobrimento – que envolveu voluntários da comunidade e profissionais – também um extenso estudo arqueológico e material, este que obteve significativos avanços, no qual percebeu-se a necessidade de fundar um museu anexo à capela para visitação.


       A pesquisa histórica foi fundamental no processo de restauração, uma vez que possibilitou o conhecimento histórico sobre o processo de construção e modificações ao longo de toda a história.² No mais, a integração com a comunidade foi fundamental:

       Na realização da restauração foi efetuado, primeiramente, um cadastramento do edifício e levantamento do espaço: sua geometria, distorções e estado de conservação. Foram realizadas pesquisas de cunho histórico, iconográfico (imagens e obras de arte) e arqueológico e, assim, a equipe responsável pela elaboração do projeto optou pela restauração do tipo conservativa. Desta maneira, foram utilizadas técnicas e materiais modernos e atuais de modo a apenas conservar e melhorar o já existente, deixando tudo o mais próximo possível do original, respeitando o tombamento do prédio e retomando não só o aspecto físico e a beleza da capela como também o grande e importante valor histórico da construção. (Imagem 01)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Imagem 01: Madeira nova do teto mantendo o mesmo padrão de construção original

Foto de Iris Perine.

       Com o início das obras, a equipe então se deparou com uma grande deformidade nas paredes, infiltrações, estruturas de madeira com cupins, fungos e em estado de apodrecimento, portas e janelas emperradas, piso muito desgastado, objetos quebrados, instalações elétricas com risco de curto-circuito, vazamentos nas instalações sanitárias e muita fuligem, pó e sujeiras.


       Assim, na etapa estrutural da restauração, a preocupação foi com a cobertura, em que muitas telhas se encontravam fora do lugar ou quebradas e foram substituídas por outras de material diferente, porém trabalhadas para que ficassem semelhantes às retiradas. Isso foi feito também com o piso, tendo sido a tijoleira usada fabricada em uma olaria centenária de Itu, que conservava as formas antigas. O revestimento foi aplicado de forma a preservar o piso original e o pacote arqueológico, sem o uso de argamassa, apenas do encaixe das peças (técnica de “piso flutuante”).


       Também houve alterações nas paredes e as que foram reformadas receberam tratamento nas fissuras e trincas, seguindo traços semelhantes aos iniciais, mantendo o ar rústico com a aplicação de cal e nova pintura. Com a madeira, a ideia era manter as peças originais, já que poucas foram danificadas. Assim, foram reforçadas e imunizadas, sendo mantidos os padrões de corte e encaixe nas que foram necessárias trocar. Já as portas e janelas, também de madeira, tiveram além disso a pintura removida e receberam tratamento para prevenir e combater cupins, bem como acabamento com pintura da mesma cor anterior. Para a resolução dos problemas de infiltração foram instaladas canaletas de captação de água da chuva e piso autodrenante no entorno do prédio.


       A restauração dos elementos artísticos aos moldes dos elementos estruturais contou com levantamento minucioso de tudo e proposta de conservação dos vestígios. No entanto, a danificação artística era mais extensa, tendo sido perdida grande parte das informações anteriores. Desta maneira, teve de ser utilizada uma pintura interpretativa, no qual levou-se em conta que o estilo da época da construção era bastante colorido, principalmente em tons de vermelho, azul e dourado, ao contrário do que se mostrava principalmente nos altares, que estavam com cores vagas e escassas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Imagem 02: Pintura do altar no estilo colorido da época da construção da Capela

Foto de Iris Perine.

A restauração ainda contou com o descobrimento, em 2007, de pinturas parietais sumamente significativas para história deste local, as quais se encontravam cobertas no altar devido aos processos anteriores de reforma. Como um símbolo da presença indígena na construção do templo, elas ainda desafiam as explicações dos especialistas sobre seu significados e história.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Imagem 03: Pintura Parietal encontrada durante a restauração

Foto de Iris Perine.

Mesmo não estando no projeto inicial, a praça Padre Aleixo Monteiro Mafra também foi revitalizada, contribuindo para a harmonização arquitetônica e paisagística do local, bem como também para a importância da preservação da história da Capela de São Miguel.

 

Notas

¹ Disponível em: <http://www.jesuitasbrasil.com/newportal/2012/07/25/capela-de-sao-miguel-arcanjo-completa-390-anos/> Acesso em 14 jun. 2019.

² SANTOS, Eduardo; POMPEI, Alessandro; LUCIA, Juliani; MORAES, Julio. Capela de São Miguel:Restauro, Fé, Sustentabilidade. São Paulo. 2010.POMPEI. 2010, p.60.

³ Idem, p. 59.

Bibliografia


KOK, Gloria. A presença indígena nas capelas da Capitania de São Vicente (século XVII). Espaço Ameríndio, Porto Alegre, v. 5, n. 2, p. 45-73, out. 2011.


SANTOS, Eduardo; POMPEI, Alessandro; LUCIA, Juliani; MORAES, Julio. Capela de São Miguel: Restauro, Fé, Sustentabilidade. São Paulo. 2010.


TIRAPELI, Percival. “Altares em Pespectiva: pinturas parietais da Capela de São Miguel Arcanjo”, 2012. (Panfleto fornecido em visita à Capela).

Textos de Adília Núñez; Arthur Nascimento Valério da Silva; Ana Sara; Bárbara Caroline S. da Costa; Beatriz Quartim de Moraes Ribas; Carolina Barreto; Gabriel Zambonini Caña; Maíra Tami Correia, Gabe Nascimento; Raony Augusto Almeida; Sofia Carvalho.

Ressalta-se que foi significativa para esse projeto a decisão de estabelecer um amplo diálogo crítico em relação ao partido conceitual adotado, que envolveu não somente os técnicos e responsáveis pelas áreas de patrimônio, mas também os moradores, permitindo, assim, considerar toda a formação possível e disponível, além de fazer a participação da comunidade local como parte do processo de restauro.³

capela01.png
capela02.png
capela03.png
bottom of page