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CAPELA SÃO MIGUEL ARCANJO

ELEMENTOS ARQUITETÔNICOS E ICONOGRÁFICOS

       A Capela de São Miguel guarda a representatividade da arquitetura religiosa luso-brasileira dos séculos XVI e XVII, e hoje se destaca em meio a área central do bairro. Em 1560, uma simples e pequena capela foi levantada no local, pelos índios guaianases, sob orientação de Fernão de Munhoz, carpinteiro e bandeirante. Em 1622, foi ampliada e praticamente substituída pelos jesuítas por uma um pouco maior que tinha igualmente o papel de fazer uma vigilância da região do Tietê. No século XVIII, após a expulsão dos jesuítas da colônia e a concessão do local aos franciscanos, ela passaria por uma nova reforma feita por este últimos, comandada pelo Frei José Mariano Veloso.¹


          Durante esta reforma, o pé direito da nave foi aumentando de quatro para seis metros, duas janelas foram abertas acima do telhado frontal e um óculo (abertura circular na fachada da capela). Também foram construídas paredes de taipa de pilão (Imagem 01), além de uma parte superior que foi acrescentada usando tijolo de adobe, feito de forma artesanal, cozido no sol, muito comum na região mineira do século. Em seu interior as paredes ganharam sustentação a partir de pilares de madeira. Foram levantados altares laterais, que, assim como o altar principal e a sacristia, ganharam elementos decorativos. Em uma de suas laterais foi construída uma capela em homenagem a nossa senhora do Rosário. A igreja não perderia os elementos característicos da sua construção, mas se beneficiou com mais iluminação e espaço devido as janelas e o aumento da nave, além de elementos decorativos com cores vivas pelas pinturas que ainda podem ser vistas nos altares e nos nichos da capela.

I

 

 

 

 

 

 

Imagem 01: Parede de taipa de pilão (à esquerda), cuja pintura foi removida na última restauração
para mostrar sua estrutura original (foto de Tamires Pereira Camargo)

       A beleza desta Capela chama a atenção pela sua singeleza. Na colônia portuguesa, pode-se dizer que predominava o “estilo de chão” que possuía muitas influências clássicas, as proporções, as métricas, as formas geométricas, linhas retas, dentre outras características perceptíveis na capela.² Quando se observa a entrada da capela é possível reparar uma fachada geométrica com formas limpas e simples. Assim também a falta de decoração, que poderia ser adicionada de acordo com a ocasião ou disponibilidade financeira, como a da nave (espaço onde acontece as missas) única e profunda.


       Tal estilo era de extrema simplicidade tanto no interior como no exterior, sendo um dos principais adotados pelos jesuítas em seus aldeamentos, uma vez que os templos eram de fácil adaptação e mudanças estéticas. Como se pode observar no arco do altar (Imagem 02) - executado de maneira convencional, constituído basicamente por um revestimento de tábuas e finalizado com algumas molduras - e o gradil do coro apenas cumprem o papel de dar acabamento.³

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Imagem 02: Arco com medalhão no topo com a inscrição S.M. (Sua Majestade) (Fonte: Eduardo Soares)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Imagem 03: Figura antropomórfica na extremidade do altar
(Fonte: Eduardo Soares)

        A presença de miscigenação entre a doutrina cristã portuguesa ensinada pelos jesuítas e a cultura indígena nativa na região do Piratininga também se pode observar na capela, tal como observa Glória Kok por meio da análise de alguns elementos decorativos. O mais impressionante é, sem dúvida, a pintura parietal descoberta atrás do altar lateral quando da sua segunda restauração, feita originalmente pelos índios no século XVII, e que se constitui em um elemento único acerca da produção artística dos mesmos⁴ - Imagem 04. A pintura parietal nem sempre se encontra aberta ao público, em função dos perigos que a exposição podem causar para sua conservação. Igualmente significativos são os entalhes em formas geométricas presentes na porta e na janela que remetem à arte das civilizações andinas, lembrando “carrancas” que tinham como intenção a proteção, e provavelmente oriundos de indígenas trazidos da América espanhola. (Imagem 05)

Imagem 04: Pintura parietal encontrada no altar.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Imagem 05: Entalhe decorativo na porta atribuído aos indígenas.


      Dentre outros elementos de sua arquitetura, a Capela de São Miguel também expõe um valioso acervo de imagens sacras, de cerâmica e de madeira, expressando um testemunho cultural do período da colonização. As obras precisaram ser restauradas e identificadas devido a processos históricos, por exemplo, restauro da capela realizado entre 1939 e 1941. Na década de 1930 ocorreu a venda de alguns elementos não identificados que podem ou não ter incluído as imagens; além disso, em 1952 um atentado danificou algumas peças. Na década de 1940, foi possível identificar 16 imagens, das quais atualmente restam 11.⁵ (Imagem 06)

Imagem 06: Escultura danificado por atentado na década de 50.

Notas

¹ CRUZ, Luiz. Frei Veloso, botânico e editor, 2011. Disponível em:<https://saojoaodelreitransparente.com.br/works/view/830>. Acesso em: 10/06/19.

² CORREIA, José Eduardo Horta. A Arquitectura: Maneirismo e "estilo chão" in "História da Arte em
Portugal", Volume VII, Lisboa, Publicações Alfa, 1986.
³ MORAES, Júlio. Elementos artísticos. In: SANTOS, Eduardo. (Org.). Capela de São Miguel: Restauro Fé
Sustentabilidade. São Paulo: Associação Cultural Beato José de Anchieta, 2010, p. 85.

⁴ KOK, Gloria. A presença indígena nas capelas da Capitania de São Vicente (século XVII). EspaçoAmeríndio, Porto Alegre, v. 5, n. 2, p. 45-73, out. 2011.

⁵ SANTOS, Eduardo. (Org.). Capela de São Miguel: Restauro Fé Sustentabilidade. São Paulo: AssociaçãoCultural Beato José de Anchieta, 2010, p. 106- 107.

Referências


CORREIA, José Eduardo Horta. A Arquitectura: Maneirismo e "estilo chão" in "História da
Arte em Portugal", Volume VII, Lisboa, Publicações Alfa, 1986.


CRUZ, Luiz. Frei Veloso, botânico e editor, 2011. Disponível em: <https://saojoaodelreitransparente.com.br/works/view/830>. Acesso em: 10/06/19.
 

KOK, Gloria. A presença indígena nas capelas da Capitania de São Vicente (século XVII).
Espaço Ameríndio, Porto Alegre, v. 5, n. 2, p. 45-73, out. 2011.


MORAES, Júlio. Elementos artísticos. In: SANTOS, Eduardo. (Org.). Capela de São Miguel: Restauro Fé Sustentabilidade. São Paulo: Associação Cultural Beato José de Anchieta, 2010, p. 83-105.


SANTOS, Eduardo. (Org.). Capela de São Miguel: Restauro Fé Sustentabilidade. São Paulo: Associação Cultural Beato José de Anchieta, 2010.


STELLA, Roseli Santaella. História e restauro da igreja mais antiga de São Paulo. 2005. Disponível em <https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/sao_miguel_paulista/not
icias/?p=2377>.

Textos de Antônio Marcos de Miranda Reis; Beatriz Nascimento Marçal, Eduardo Vilela Soares, Fernanda Cristina Torrico Gulino, Gabriel Mendes Porto, Maria Alice Soares Carvalho Rodrigues, Nicole Ribeiro Alves de Oliveira, Tamires Pereira Camargo.

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